"Saio triste por ver uma geração desinteressada, sem noções de valores!"
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Elia Alves Pires |
Esta é uma entrevista para mostrar que mesmo com grandes dificuldades podemos, sim, sonhar, realizar os nossos sonhos e alcançar nossos objetivos.
E, hoje, iremos entrevistar uma mulher que, apesar de tudo que passou na vida, continua de pé, já que nunca desistiu de lutar. Esta é Élia Alves Pires, Diretora Adjunta do Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva.
ENTREVISTADA - Élia Alves Pires
ENTREVISTADORAS - Laiza Ester de Oliveira Alves, Ariane Barroso e Nathalia Cristina Pereira de oliveira (Alunas do 1º ano do Ensino Médio - Turma 1003).
ENTREVISTADORAS - Bom dia Dona Élia! Nós lemos, na internet uma matéria publicada em 2008, a qual a senhora relata suas memórias, desde a vinda de sua família para o Rio de Janeiro até a mencionada data. Achamos a narrativa tão interessante que decidimos entrevistar a senhora. Na verdade, nós três concordamos que sua história de coragem e superação é, de fato, admirável.
ENTREVISTADA - Obrigada!
ENTREVISTADORAS - Por qual motivo, D. Élia, seus pais resolveram vir para o Rio de Janeiro?
ENTREVISTADA - O motivo principal dos meus pais era fazer com que eu e meus irmãos pudéssemos ter um estudo de qualidade.
ENTREVISTADORAS - Ao chegar no Rio de Janeiro, quais foram as dificuldades enfrentadas por vocês?
ENTREVISTADA - Várias foram as dificuldades, por exemplo, acidentes ocorridos com meu pai (assalto, doença que quase o deixou paralitico) e as consequências foram drásticas, dentre estas, um estado de pobreza total.
ENTREVISTADORAS - Como se sabe, a senhora começou a trabalhar aos oito anos de idade! Qual era a função que, naquela época, a senhora exercia?
ENTREVISTADA - A primeira função que exerci foi a de limpar casas de vizinhos para ganhar qualquer quantia de dinheiro... Qualquer quantia era entregue à minha mãe pelo meu trabalho. Depois trabalhei na cidade, em casas de família. Eu era tão pequena que precisava subir em um banquinho para lavar a louça. Também trabalhei em botequim, armarinho, fábrica de calças, trabalhei ainda em uma metalúrgica e daí não parei mais.
ENTREVISTADORAS - Era comum, naquela época, o trabalho infantil. No seu caso, além de trabalhar fora, a senhora ainda ajudava em casa. Como?
ENTREVISTADA - Eu ficava nas casas das patroas durante a semana e ajudava em casa aos sábados e domingos. Ajudava a minha mãe a arrumar a cozinha, limpar a casa, entre outras coisas. E, além disso, como não havia água encanada, tínhamos que carregar latas e latas de água. Eu, e muitas outras crianças, abastecíamos os reservatórios de água que havia em nossas casas. E o pior é que andávamos longas distâncias para fazer isso.
ENTREVISTADORAS - Entre tantas dificuldades enfrentadas pela senhora, ao longo de sua infância e juventude, qual destas julga a maior?
ENTREVISTADA - A maior dificuldade que enfrentei se iniciou aos oito anos, quando vi que seria muito difícil chegar aonde eu queria.
ENTREVISTADORAS - Em algum momento a senhora pensou em desistir, em meio a tantas dificuldades?
ENTREVISTADA - Nunca... Sempre corri atrás dos meus sonhos.
ENTREVISTADORAS - Suas dificuldades serviram de aprendizados? Quais?
ENTREVISTADA - Serviram! E muito! Aprendemos a caminhar com nossas dificuldades. Sempre acreditei no amanhã.
ENTREVISTADORAS - Acha que conseguiu ajudar suficientemente sua família?
ENTREVISTADA - Sim, ajudei muito!
ENTREVISTADORAS - Se pudesse voltar no tempo e mudar algo, o que mudaria?
ENTREVISTADA - Já que precisei trabalhar a partir dos oito anos de idade, não tive infância. Então, acho que é isso que mudaria!
ENTREVISTADORAS - Atualmente, qual o seu maior sonho, Dona Élia?
ENTREVISTADA - Meu sonho está voltado para Educação. De fato, eu sonho em ver o Brasil com educação de qualidade, nossos jovens realmente interessados em aprender, visando um futuro melhor.
ENTREVISTADORAS - Referindo-se a si mesma, conseguiu realizar todos os seus sonhos?
ENTREVISTADA - Todos não! Sempre estamos querendo mais! (risos) Gostaria de ter dinheiro constantemente.
ENTREVISTADORAS - Fale de suas realizações?
ENTREVISTADA - Me formei, casei e tive uma filha.
ENTREVISTADORAS - Como a senhora chegou no Alzira?
ENTREVISTADA - Cheguei aqui, no Alzira, através de concurso. Concluí a graduação em História - na Universidade Gama Filho -, fiz prova de seleção para atuar no magistério estadual do Rio de Janeiro e, enfim, escolhi o CE. Professora Alzira dos Santos da Silva por já conhecer o bairro.
ENTREVISTADORAS - Ficamos sabendo, por terceiros, que a senhora pretende se aposentar no ano que vem. Fale um pouco sobre isso!
ENTREVISTADA - (Silêncio) ... É difícil! ... Tudo tem seu momento ... e acredito que chegou o meu (Olhar de tristeza). Saio triste por ver uma geração desinteressada, sem noções de valores! Triste também porque não gostaria de me aposentar no momento.
ENTREVISTADORAS - Agradecemos à senhora por nos ter concedido parte de seu tempo e atendido ao nosso pedido para entrevistá-la. Nós três seremos eternamente gratas! um Bom dia para a senhora!
ENTREVISTADA - Eu é que agradeço a vocês!